MEMÓRIAS
“Há um homem na praça vestido apenas com uma caixa de papelão”, ele disse. “Que triste”, respondeu ela. “Ah... isso é comum por aqui”, retrucou ele. Ela chorou. Impossível não refletir sobre a natureza humana. Será que é mau ter internalizado em toda uma sociedade que o mínimo, o meramente essencial –ou nem isso– é o comum? Será que chorar e entristecer-se torna uma pessoa boa?

O ser humano é, por natureza, contraditório. Sua constância é a inconstância. Assim é que sentimentos bons e maus disputam espaço na memória, no pensamento crítico e nas ações de cada um. E essa é uma disputa desigual, regrada ora pela conveniência, ora por valores.
 
É conveniente chorar à vista de uma cena tão triste quanto a de alguém que vive em busca apenas do mínimo. É o que se espera que seja feito. Chorar. Por que, então, algumas pessoas não o fazem? Não o fazem porque se chegou a um ponto de indiferença e de egoísmo que isso não importa mais. O ser humano não importa mais. Tanto faz se é bom ou ruim.

Mas tem os que choram por valores. Embora não haja mais espaço para valores na sociedade dita contemporânea. E não o fazem por qualquer reconhecimento de bondade. Fazem por necessidade. Afinal, bondade mesmo não é apenas reconhecer um problema e, sim, agir para solucioná-lo. E isso... quase ninguém faz.

 
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