MEMÓRIAS

Solidão, o silêncio das estrelas, a ilusão
Eu pensei que tinha o mundo em minhas mãos
Como um deus e amanheço mortal
E assim, repetindo os mesmos erros, dói em mim
Ver que toda essa procura não tem fim
E o que é que eu procuro afinal?
Um sinal, uma porta pro infinito, o irreal
O que não pode ser dito, afinal
Ser um homem em busca de mais, de mais...
Afinal, como estrelas que brilham em paz, em paz...
Solidão, o silêncio das estrelas, a ilusão
Eu pensei que tinha o mundo em minhas mãos
Como um deus e amanheço mortal
Um sinal, uma porta pro infinito, o irreal
O que não pode ser dito, afinal
Ser um homem em busca de mais...

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MEMÓRIAS
 "Quando olhaste bem nos olhos meus... o seu olhar era de adeus..."

A morte sempre me espantou e esse sentimento não desapareceu ou mesmo diminuiu com o passar do tempo. Até quando a morte já é esperada, cogitada como iminente, ela é surpreendente. É sempre uma certeza incerta.

E hoje eu vi um caixão. E hoje eu não quis nem olhar de perto o corpo sem vida de quem eu não me lembrava ter conhecido. E hoje não suportei o discurso do padre e não foi pelo aspecto religioso e, sim, pela extrema inconveniência de suas palavras. Saí. E, então, hoje eu vi mais um caixão, que estava sendo transportado fechado em um carrinho de metal e, antes disso, havia ficado alguns bons minutos dentro de um carro estacionado a minha frente sem que eu sequer imaginasse que ele lá estava. 

E isso me espantou ainda mais. De repente, comecei a ouvir todos e cada um dos sons a minha volta. Um turbilhão de ruídos. Prantos misturados a risadas, toques de celular abafados pelo barulho de motores, impressoras funcionando e mitigando o som da pedra sendo cimentada e pondo fim a vida que já havia se esvaído. Era tudo meio nauseante, atordoante, indiferente, demagógico, estranho. 

E mais estranho era o fato de que a morte daquele eu não lembrava ter conhecido não me  provocou qualquer tristeza ou sofrimento. Entretanto, minha presença naquele ritual não cumpria apenas uma obrigação social. Era, como eu, mais pretensiosa que isso. Queria oferecer algum conforto àqueles que realmente estavam sentido a dor dessa perda.

Ou seja, queria eu o impossível!! Afinal, a morte, assim como a vida, vem sempre de inopino e sempre surpreendentemente espantosa.


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MEMÓRIAS
Porto Alegre, 04 de junho de 2012

Madrinha,

Escrevo para dizer que hoje vivo em uma casa de paredes coloridas... esperei 29 anos por isso... mas me dei de presente uma casa de paredes coloridas.


Só que isso não basta. Queria poder te mostrar. Queria teus palpites que, provavelmente, eu não aceitaria; tuas cores que, provavelmente, eu não gostaria; tuas opiniões que, provavelmente, eu diria que consideraria mas faria o contrário.

Enquanto tu viveste eu sempre concordei; mas, hoje, penso que discordaríamos em muitas coisas. Teria de ser diferente nosso relacionamento, porque eu sou diferente. Provavelmente tu também serias. O tempo passou... e já foram longos 06 anos -- mas não teve um dia no qual eu não lembrasse ou pensasse em ti, ou no que tu achas sobre o que estou fazendo.

Tu não tens noção do quanto eu gostaria que realmente pudesse ler essa carta.

Essa coisa de saudade é uma droga. Eu olho minha casa todos os dias e fico feliz e triste ao mesmo tempo. Não tenho como não pensar que tu NUNCA verás! Eu NUNCA poderei te convidar pra jantar na minha casa. NUNCA.


Tu nunca verás eu ter comprado um carro, um apartamento, ido a 02 shows do Chico (como tu foste da Elis), ido a Montevideo, Buenos Aires. Nunca saberás que eu passei um ano novo maravilhoso na beira da praia em Copa, nem que fui sozinha ver o Fantasma da Ópera em SP (que combinamos ir juntas)... e chorei a peça inteira de saudades tuas.

Às vezes penso que tu tinhas uma noção muito clara do quanto eras (e és) importante. Às vezes acho que não. Tu fazes uma falta! Não acredito em coisa alguma após a morte. Acredito que termina. E terminou tua estada nesse planeta. Mas, pode ser clichê ou o que mais quiserem dizer, viverás sempre nas memórias do meu esquecimento.

Foste tudo que eu quis e tudo que eu precisei. TUDO! A tia genética e a MADRINHA escolhida...

Saudades muitas e infinitas,