MEMÓRIAS
 "Quando olhaste bem nos olhos meus... o seu olhar era de adeus..."

A morte sempre me espantou e esse sentimento não desapareceu ou mesmo diminuiu com o passar do tempo. Até quando a morte já é esperada, cogitada como iminente, ela é surpreendente. É sempre uma certeza incerta.

E hoje eu vi um caixão. E hoje eu não quis nem olhar de perto o corpo sem vida de quem eu não me lembrava ter conhecido. E hoje não suportei o discurso do padre e não foi pelo aspecto religioso e, sim, pela extrema inconveniência de suas palavras. Saí. E, então, hoje eu vi mais um caixão, que estava sendo transportado fechado em um carrinho de metal e, antes disso, havia ficado alguns bons minutos dentro de um carro estacionado a minha frente sem que eu sequer imaginasse que ele lá estava. 

E isso me espantou ainda mais. De repente, comecei a ouvir todos e cada um dos sons a minha volta. Um turbilhão de ruídos. Prantos misturados a risadas, toques de celular abafados pelo barulho de motores, impressoras funcionando e mitigando o som da pedra sendo cimentada e pondo fim a vida que já havia se esvaído. Era tudo meio nauseante, atordoante, indiferente, demagógico, estranho. 

E mais estranho era o fato de que a morte daquele eu não lembrava ter conhecido não me  provocou qualquer tristeza ou sofrimento. Entretanto, minha presença naquele ritual não cumpria apenas uma obrigação social. Era, como eu, mais pretensiosa que isso. Queria oferecer algum conforto àqueles que realmente estavam sentido a dor dessa perda.

Ou seja, queria eu o impossível!! Afinal, a morte, assim como a vida, vem sempre de inopino e sempre surpreendentemente espantosa.


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